domingo, 28 de junho de 2015

Depressão na adolescência

Publicado por Maria Célia Becattini

por Riad Younes — publicado 25/06/2015 

Os sintomas: tristeza por períodos longos, choro frequente, irritabilidade, autocrítica em excesso



"Quase todos os dias eu me sentia horrível. Quase todos os dias sentia o peso insuportável da vida. Tudo era difícil. Tudo era obstáculo. Até meus passatempos, antes preferidos e divertidos, não mais me trazem qualquer prazer. Sempre ansioso, sempre à beira da explosão. Me odiava e odiava tudo e todos que estavam ao meu redor. Parece que perdi a esperança.”

Assim se descreveu um adolescente a um médico amigo meu. Em conversas sobre os jovens e suas ansiedades, ele me relatou esse caso como emblemático de um problema frequente, intrigante e muito preocupante: o progressivo aumento do número de adolescentes com diagnóstico de depressão. Muitas vezes graves. Às vezes levando a atos de automutilação e até suicídio.

As causas dessa incidência cada vez mais elevada não são claras, mas os números não deixam dúvidas sobre a importância desse problema. Vários estudos realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos estimam que entre 7% e 11% dos adolescentes apresentam sintomas claros de depressão, e que de 2% a 3% têm quadros graves da doença. No Brasil, as estatísticas científicas estimam que os jovens apresentam incidências semelhantes, sendo a depressão mais comum nas meninas adolescentes (12%) do que nos meninos (5%).

A depressão tem um peso enorme não somente nos jovens pacientes, com grande impacto na qualidade de vida dos adolescentes e de seus familiares, associada ao aumento dos riscos de desfechos graves. O uso frequente de serviços médicos e hospitalares e a necessidade de tratamentos prolongados também sobrecarregam os sistemas de saúde e elevam os custos desses cuidados.

Os tratamentos atuais, apesar de melhorarem substancialmente em relação ao passado, ainda deixam de controlar totalmente a maioria dos pacientes.

Os sintomas mais comuns, que podem alertar pais e amigos para um caso de depressão, são: tristeza por longos períodos, choro frequente, dificuldade de tomar decisões, perda de energia, irritabilidade, dificuldade de concentração e de trabalho, e autocrítica constante.

Mesmo não parecendo haver correlação entre depressão na adolescência e sua persistência na idade adulta, muitos dos adultos com a doença apresentaram seus primeiros sintomas na adolescência. Os adolescentes acometidos são frequentemente filhos de pais ou familiares imediatos com depressão.

Identificar o problema precocemente e tratá-lo de forma adequada, utilizando tanto as abordagens comportamentais quanto medicamentosas, é fundamental. Melhora a qualidade de vida do adolescente e de sua família, e reduz o risco de evolução grave, por vezes fatal.

Os especialistas do Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos recomendam a atenção, o cuidado e a prevenção nas crises de depressão. A incidência de uso abusivo de álcool, drogas e de comportamento antissocial é muito mais comum em pacientes com depressão. O custo social dessa doença mental é alto. O sofrimento individual, incalculável. E nenhum adolescente está imune. A atenção aos sintomas e sinais de alerta pode salvar a vida de muitos jovens.

sábado, 27 de junho de 2015

Disgrafia

Publicado por Maria Célia Becattini


Para Pérez (2005), a disgrafia é um transtorno da escrita que afeta a forma ou

o significado e é do tipo funcional. Ocorre em crianças com capacidade

intelectual normal, com adequada estimulação ambiental e sem transtornos

neurológicos, sensoriais, motores ou afetivos intensos. No DSM IV, a disgrafia

vem definida da seguinte maneira: “ a disgrafia caracteriza-se

por erros gramaticais de pontuação, organização pobre de parágrafos, múltiplos erros de

ortografia e uma grafia deficitária.” Esta definição que o DSM IV apresenta

inclui também a dimensão simbólica da escrita junto com as dimensões motora

e gráfica. A disgrafia refere-se a uma dificuldade na escrita, em que os

problemas podem estar relacionados com o componente grafomotor (padrão

motor da escrita) (exemplo: formas das letras, espaço entre as palavras,

pressão do traço); com a soletração; e com a produção de textos escritos.

(NCLD, 1997 cit. por CORREIA & MARTINS, 19917).

Segundo a Associação Portuguesa de Pessoas com Dificuldades de

aprendizagem específica, A Disgrafia é uma alteração da escrita que a afeta na

forma ou no significado, sendo do tipo funcional. Perturbação na componente

motor do ato de escrever, provocando compreensão e cansaço muscular, que

por sua vez são responsáveis por uma caligrafia deficiente, com letras pouco

diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas. A Associação ainda

coloca como um dos sinais secundários a forma errada de segurar a caneta ou

lápis e cita a dificuldade no “desenho das letras.”

Alguns outros indicadores podem ser: Forma incorreta de segurar o

instrumento com que se escreve, ritmo da escrita muito lento ou

excessivamente rápido, letra excessivamente grande, letras desligadas ou

sobrepostas e ilegíveis, traços exageradamente grossos ou demasiadamente

suaves, ligação entre as letras distorcida.

Problemas associados:

􀁸 Biológicos: Perturbação da lateralidade, do esquema corporal e das

funções perceptivomotoras,

perturbação de eficiência psicomotora

(motricidade débil, perturbações ligeiras do equilíbrio e da organização

cinéticotônica, instabilidade).

􀁸 Pedagógicos: Orientação deficiente e inflexível, orientação inadequada

da mudança de letra de imprensa para letra manuscrita, ênfase

excessiva na qualidade ou na rapidez da escrita, prática da escrita como

atividade isolada das exigências gráficas e das restantes atividades

discentes.

􀁸 Pessoais: Imaturidade física, motora, inaptidão para a aprendizagem

das destrezas motoras, pouca habilidade para pegar no lápis, adoção

de posturas incorretas, déficits em aspectos do esquema corporal e da

lateralidade.

􀁸 O que pode fazer: Encorajar a expressão por meio de diferentes

materiais (massinha de modelar, pinturas e lápis). Todas as tarefas que

impliquem o uso das mãos e dos dedos são positivas, estimular a

criança a recortar desenhos e figuras, a fazer colagens e picotar.

Promover situações em que a criança utilize a escrita (exemplo:

escrever pequenos recados, fazer concites e postais), fazer atividades,

como contornar figuras, pintar dentro dos limites, ligar pontos, seguir em

tracejado etc. Deixar a criança expressar-se livremente no papel, sem

corrigir nem julgar os resultados.

Fonte: Livro transtornos de comportamento e distúrbios de

aprendizagem; Autor: Lou de Olivier

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Apps brasileiros ajudam surdos a se comunicar e até a aprender música


Publicado por Maria Célia Becattini
Zanone Fraissat/Folhapress

Sabine Schaade e Gilberto Lopes, pais de Guilherme, que usa app que traduz texto para língua de sinais

YURI GONZAGA
ENVIADO ESPECIAL A SAN FRANCISCO15/06/2015 02h02

Depois de se conhecerem em um curso de criação de aplicativos, Raphael Silva, 23, e Ivan Ortiz, 29, decidiram unir a programação à paixão comum pela música em uma causa peculiar: ensinar teoria musical para surdos.

Do encontro, nasceu o Ludwig, projeto de um app ainda em elaboração que usa imagens e vibração para tentar transmitir a experiência de ouvir música para pessoas que têm deficiência auditiva.

O aplicativo foi exibido na semana passada pela Apple na abertura de seu congresso de desenvolvedores, em San Francisco (EUA), de forma a demonstrar como esses pequenos softwares têm potencial para mudar o mundo.

Ele não está sozinho: outras ferramentas brasileiras para pessoas com deficiência têm recebido distinções de grandes empresas como Microsoft e Google e de órgãos como a ONU. E o número de usuários não é desprezível.

"Foi o maior presente que poderíamos ter ganhado", diz Silva, que também recebeu da companhia, por meio de seu programa de bolsas, uma entrada para o evento realizado em San Francisco –o preço da participação é de US$ 1.599, cerca de R$ 4.900.

O Ludwig, cujo nome homenageia Beethoven (que compôs mesmo surdo em grande parte da vida), começará a ser oferecido gratuitamente até o final deste ano, com uma pulseira vibratória que será vendida por um preço ainda não definido.

Os protótipos do aparelho, que "treme" em frequências diferentes conforme a nota tocada na interface (um piano virtual), foram construídos manualmente pelos desenvolvedores, de Campinas (SP), e já testados por surdos.

"Um dos meninos, que é de uma família de músicos, mas não ouve desde os três anos, disse que a experiência era mesma de quando seu irmão tentou lhe ensinar violão", diz o idealizador Ortiz, que conta que a inspiração ocorreu a partir de um grupo de surdos da igreja de que faz parte.

"Sabia que eles tinham contato com a música por meio da vibração, então discuti a ideia com meu primo, um intérprete de Libras [língua brasileira de sinais]". A partir daí, começaram a fazer os primeiros testes.

Agora, Silva diz que está organizando o grande número de propostas de parceria e de investimento que recebeu durante o evento da Apple. "Ainda vamos decidir qual estratégia financeira vamos adotar."

Mãe de Guilherme, 5, que nasceu surdo e se comunica por Libras (Língua Brasileira de Sinais), a comerciante Sabine Schaade diz que seu filho interage com música a partir de estímulos táteis e visuais. Enquanto conversávamos pelo telefone, ele dançava com o game "Just Dance".

Arquivo Pessoal

Emanuel, filho de Marina Gaya, usa o aplicativo Livox, que sintetiza resposta de usuários

MERCADO CONSUMIDOR

A paulistana usa, junto com seu marido e os três irmãos de Guilherme, outro app brasileiro, o Hand Talk, que traduz texto para Libras. "As pessoas não dão importância, mas é uma língua como todas as outras."

Segundo o Censo de 2010, quase um quarto (23,9% ou 45,6 milhões) da população brasileira diz ter algum tipo de deficiência, dos quais 9,7 milhões (5,1%) são parcial ou totalmente surdos.

Ronaldo Tenório, cofundador do Hand Talk, diz que somam-se a esse já grande número as pessoas que precisam se comunicar com a pessoa com deficiência –isso inclui as empresas. "O surdo também é um consumidor", diz. O app, gratuito, venceu em 2014 o Prêmio Empreendedor Social de Futuro, promovido pela Folha, e já teve cerca de 400 mil downloads.

A empresa tem faturamento na venda da solução para a incorporação em sites ou sistemas. "Se oferecêssemos de graça, dependeríamos de um patrocinador, e provavelmente o desenvolvimento, que demanda tempo e recursos, não seria tão rápido."

Parecido, o aplicativo ProDeaf, também brasileiro, é patrocinado pelo Bradesco e pela Telefônica, e foi baixado 450 mil vezes, segundo o presidente-executivo Flávio Almeida. Para ele, contudo, poucas organizações –públicas ou privadas– se interessam em incluir ferramentas de acessibilidade para surdos, que nem sempre sabem ler, mas que têm grande afinidade com a tecnologia.

"Se ensino básico é ruim para todos no Brasil, imagine para eles", diz. "As pesquisas, como da Feneis [Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos] mostram que 7% da comunidade surda é alfabetizada. Se ele entra num site e não há uma ferramenta para traduzir para Libras, tudo aquilo é grego para ele."

LIBERDADE

Outro contingente que precisa de uma ferramenta auxiliar para comunicação é o formado por pessoas com deficiência neurológica. Segundo Carlos Edmar Pereira, desenvolvedor do amplamente premiado app Livox ("Liberdade em Voz Alta"), o número de potenciais usuários do aplicativo no Brasil –não só os deficientes, mas também quem teve acidente vascular cerebral ou tem sequela por outros motivos– chega a 15 milhões.

No dia 4, o aplicativo ganhou uma competição internacional de start-ups realizada nos EUA, realizada pela Microsoft, logo depois de ter sido mencionado como exemplo de app transformador no congresso de desenvolvedores do Google. A ferramenta foi premiada pela ONU e pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

O app mostra, na tela do tablet, opções ilustradas para o usuário selecionar conforme a situação, que varia desde simples "sim" e "não" a "estou com frio" e opções que podem ser programadas. O programa, então, vocaliza o enunciado por uma ferramenta de sintetização de voz.

Apesar da proeminência mundial de seu programa, que criou para falar com a filha Clara (vítima de um erro médico no nascimento, do qual decorreu uma paralisia cerebral) e que já recebeu honras do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e da ONU, Pereira diz que há pouco incentivo para start-ups do tipo no Brasil.

"Na verdade, todo empreendedor brasileiro merece uma medalha, porque não há incentivo, além da burocracia", diz, citando o Reino Unido, onde empresas podem abater parte de seus impostos conforme o investimento em pesquisa e desenvolvimento. "Além disso, tablet é caro, toda tecnologia é cara. Nos países ricos, é mais fácil porque as pessoas já têm acesso."

Marina Gaya, consultora em segurança ocupacional, usa o Livox para falar com seu filho Emanuel, 10, que nasceu prematuro e teve paralisia cerebral em consequência –seu irmão gêmeo foi natimorto.

"O app foi um divisor de águas", conta. "Hoje, ele consegue responder a todas as perguntas na sala de aula [está na quarta série, em escola onde é o único aluno com deficiência, em Capão Bonito (SP)], seja de matemática, de alemão, de inglês."

Emanuel tem plena capacidade de absorver conhecimento, diz Gaya. "Ele tem a cognição perfeita, mas, antes dessa ferramenta, não conseguia se expressar. Agora, quando ele pressiona uma opção no app, ele fica radiante, porque cria voz."

O repórter viajou a convite da Apple

OS APLICATIVOS
Projeto Chivas/Reprodução



ProDeaf
Para pessoas que não sabem Libras
Tradutor de texto e som para a Língua Brasileira de Sinais
Downloads: 450 mil
Plataformas: App Store, Google Play

Hand Talk
Para quem deseja se comunicar com surdos
Traduz texto e voz para Libras
Downloads: 400 mil
Plataformas: App Store, Google Play, BlackBerry World
Divulgação


Ludwig
Para surdos
Pulseira vibra em frequências diferentes para cada nota e usa imagens para transmitir a experiência da canção
Plataforma: Apple Store (ainda não lançado)

Livox
Para pessoas com deficiência neurológica
Sintetiza voz de acordo com resposta escolhida pelo usuário
Usuários: 10 mil
Plataforma: para tablet

Luva inovadora permite que surdocegos enviem mensagens de texto

Publicado por Maria Célia Becattni

Você já parou para pensar como surdocegos se comunicam?  Nos países que têm o Alemão como língua principal é usado o Lorm, uma forma de comunicação em que as letras do alfabeto são indicadas em pontos na palma da mão – o chamado alfabeto tátil. Mas como se comunicar com pessoas que não entendem o Lorm? 


Afim de facilitar a comunicação entre surdocegos e as demais pessoas, está sendo desenvolvida a Mobile Lorm Glove, uma luva inteligente que,  por meio de sensores, é capaz de transformar toques na palma da mão em caracteres e enviá-los em forma de SMS para o celular do usuário. O contrário também é possível: se um surdocego recebe um SMS, as palavras são transformadas em vibrações. Espera-se que essa tecnologia permita também a leitura de e-books e audiobooks.

O projeto, criado pelo pesquisador alemão Tom Bieling, ainda está em estágio inicial, mas tem o potencial de revolucionar a vida dos surdocegos que dominam a língua alemã e que, devido às dificuldades de comunicação, na maioria das vezes vivem isolados. Entenda como funciona:









Estágios do desenvolvimento cognitivo - Jean Piaget

Publicado por Maria Célia Becattini







segunda-feira, 15 de junho de 2015

Os períodos sensíveis do desenvolvimento cerebral

Publicado por Maria Célia Becattini
Fonte: http://meucerebro.com/os-periodos-sensiveis-do-desenvolvimento-cerebral/

É certo que podemos aprender coisas novas ao longo da vida. Afinal de contas, se não pudéssemos, simplesmente não teríamos chegado até aqui. No entanto, como esse aprendizado ocorre? E se, ao contrário do que muitas vezes se imagina, disséssemos que uma de suas etapas mais importantes ocorre na infância e não na fase adulta? Só conhecendo os períodos sensíveis para entender isso melhor.
Períodos sensíveis são essenciais na “montagem” do cérebro ao longo do desenvolvimento.

O que são períodos sensíveis?

O cérebro humano é algo realmente maleável. Assim como hoje sabemos que a genética não é apenas um código fixo, o cérebro também não representa apenas uma circuitaria imutável. Constantemente, as experiências que vivemos moldam, estrutural e funcionalmente, nossos neurônios, e os circuitos neurais se adaptam às necessidades exigidas pelo meio. Essa capacidade é chamada plasticidade neuronal.

O que se observou até hoje é que essa plasticidade é muito maior durante a infância. E, mesmo dentro dessa fase, existem períodos limitados de tempo em que determinadas vias neuronais são excepcionalmente maleáveis. Consequentemente, nesses períodos, a pessoa é muito mais sensível às influências do ambiente, o que acaba por interferir intensamente em seu desenvolvimento cerebral. Esses períodos são chamados de períodos sensíveis.

Tais períodos não ocorrem simultaneamente para todas as partes do cérebro. Além disso, têm durações variáveis para cada conjunto de neurônios e cada função neurológica. Em resumo, isso quer dizer que existem períodos específicos da vida de uma pessoa em que ela tem maior possibilidade de desenvolver uma ou outra habilidade, e mesmo um ou outro comportamento ou traço de personalidade.
Os períodos sensíveis de funções cerebrais específicas ocorrem em momentos distintos do desenvolvimento e têm durações diferentes.
Leia também: Sistema nervoso: princípios, subdivisões e constituintes básicos
O que acontece nesses períodos?

O cérebro nasce com redes neuronais “provisórias”. Uma vez no mundo, o indivíduo terá que possuir habilidades básicas para sua sobrevivência e, ao mesmo tempo, conseguir se adaptar a diversas influências imprevisíveis do meio (respostas adaptativas que, portanto, não podem estar já codificadas em seus genes). Na vida intra-útero, o cérebro fetal se assemelha mais a uma espécie de rascunho: ele possui todos os circuitos que executam as funções básicas de um cérebro, mas esses circuitos podem ser apagados e reescritos.

Por conta de várias influências moleculares, o cérebro infantil tem neurônios e sinapses extras, muitas das quais não estarão presentes na vida adulta. Esses neurônios já possuem a capacidade de produzir novos axônios, dendritos e sinapses conforme a necessidade (capacidade que está especialmente aumentada durante os períodos sensíveis). Isso basta para que tenhamos um cérebro preparado para praticamente tudo.

Conforme a criança passa por algumas experiências, certas vias neuronais vão sendo ativadas, dependendo de qual estímulo ela recebe do meio. Ao longo desse processo, as sinapses mais usadas são fortalecidas, inclusive por proteínas de adesão que ancoram os neurônios pré e pós-sinápticos uns aos outros. Novos axônios, dendritos e sinapses vão sendo formados e, se as novas vias forem usadas (ou seja, se forem úteis), elas passam pelo mesmo processo de fortalecimento. Ao mesmo tempo, as vias que não estão sendo usadas são suprimidas e até eliminadas, de forma a impedir interferências desnecessárias no funcionamento do conjunto de neurônios como um todo.

O resultado é um refinamento gradual do cérebro: uma função de cada vez, conforme os períodos sensíveis e a infância vão passando, e forma-se um adulto hábil e adaptado ao meio em que vive. Isso também quer dizer que o resultado não vai ser sempre bom, já que a sensibilidade não é seletiva e a criança está suscetível a mudar tanto por estímulos positivos quanto negativos.
Leia também: A experiência dolorosa
Mas… e no adulto?

Infelizmente, não é possível trazer períodos sensíveis com todo o seu vigor para a fase adulta. Mas, é claro que adultos também precisam aprender sempre. Para isso, a plasticidade neuronal continua e dura o resto da vida. Só que em um ritmo menor. Algumas áreas do cérebro mantém plasticidade semelhante à da infância, como o hipocampo (responsável pelo aprendizado, memória e controle emocional).

De qualquer forma, a capacidade de se desenvolver, aprender e mudar continuam. Elas podem, inclusive, ser potencializadas em grande escala por algumas medidas. O simples fato de se prestar atenção em uma atividade ou informação já aumenta muito a plasticidade das vias neuronais que estão sendo usadas para aquela determinada tarefa. Outro exemplo é o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), substância conhecida por estimular a plasticidade neuronal, e produzida em maior escala em resposta aos exercícios físicos.
E qual é a importância de tudo isso?



Os períodos sensíveis ainda não são plenamente compreendidos por conta de sua complexidade. Ainda não existem medidas psicológicas claras que interfiram nos momentos exatos da maturação cerebral para usá-los a nosso favor.

Contudo, eles nos mostram que a infância é um período essencialmente relacionado ao aprendizado. Tanto que crianças têm maior facilidade em aprender novas línguas, a tocar instrumentos e mesmo em desenvolver comportamentos e visões de mundo mais éticas e saudáveis.

Consequentemente, tais períodos de maior sensibilidade influenciam muito no tipo de adulto que uma criança se tornará e evidenciam como o meio afeta essa faixa etária, abrindo portas para entendermos as consequências de traumas, más-influências, negligência e mesmo doenças orgânicas na infância. Da mesma forma, também apontam caminhos para futuras intervenções, através de novos tratamentos e prevenção otimizada.

Fontes: Neuropsychopharmacology Reviews, Journal of Cognitive Neuroscience

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Projeto oferece ioga para deficientes mentais e autistas

Publicado por Maria Célia Becattini
Projeto oferece ioga para deficientes mentais e autistas
07 de Maio de 2014 • Atualizado às 13h14




Resultados demonstram que a atividade também pode ser benéfica para diminuição de surtos.

A prática da ioga desenvolve as funções psicomotoras e a sensibilização corporal. Percebendo os benefícios interligados entre a saúde física e mental, a Casa de David e incluiu em suas atividades terapêuticas as aulas de ioga para seus ssistidos/abrigados.

A instituição é responsável por abrigar, acolher e tratar pessoas carentes com deficiência mental e autismo. Há um ano, foi inclusa a atividade por meio dos voluntários Hector Hungria, Luiz Montini e da norte-americana Subagh Kaur Khalsa. Cerca de 30 assistidos participam da atividade atualmente em que se trabalha o eixo de equilíbrio, respiração e concentração, e, mesmo com as limitações patológicas, as respostas são rápidas e positivas.



“A assiduidade e a participação deles nas aulas é impressionante. Principalmente a participação dos assistidos com autismo grave. Os pacientes cadeirantes e com paralisia cerebral também participam de forma espetacular. Todos os dias nos deparamos com situações de melhoria de convivência entre eles, sobretudo de surtos, que deixam de acontecer por causa da atividade”, afirma a Coordenadora de Comunicação da Instituição, Cleize Bellotto.

De acordo com Cleize, as alterações positivas nos assistidos são perceptíveis no que diz respeito às mudanças de humor, concentração, desenvolvimento de capacidades físicas como equilíbrio e flexibilidade, além de diminuição da agressividade e a ansiedade dos deficientes. Ela também ressalta que, uma das maiores esperanças do projeto em longo prazo é a diminuição dos medicamentos ou das dosagens.







Imagens Divulgação

quinta-feira, 4 de junho de 2015

MUTISMO SELETIVO: ENTENDA O QUE É E COMO TRATAR

Publicado por Maria Célia Becattini

BY JOTTACLUB1950 · JUNE 1, 2015


O mutismo seletivo é um transtorno pouco conhecido e divulgado. Por esta razão, a meu pedido, minha grande amiga e especialista no assunto, redigiu o artigo a seguir.

Luciana Campos

O mutismo seletivo é um transtorno que acomete crianças de todas as idades, caracteriza-se por uma incapacidade da criança em falar em alguns locais (escola, festas, rua), em algumas situações e com algumas pessoas, inclusive da própria família. Essas crianças compreendem a linguagem e são capazes de falar com toda normalidade em lugares onde se sentem seguros e confortáveis, como exemplo, em casa e com pessoas de seu círculo mais íntimo, tais como, pais e irmãos. O fato de não falar em determinadas situações não significa que estão querendo chamar atenção ou controlar o ambiente, mas sim em demonstrar o grau de ansiedade e vergonha que sofrem, e essas emoções as inibe de falar e expressar seu comportamento não-verbal. Normalmente, elas apresentam dificuldade em olhar nos olhos, dificuldade em sorrir, de se expressar em público, de ir ao banheiro, em comer na escola. A percepção dessas crianças é que estão sendo observadas constantemente, por isso, seus movimentos ficam paralisados como estátua cada vez que elas se sentem avaliadas. Embora seja considerado um transtorno raro, sendo encontrada em menos de 1% dos indivíduos vistos em contextos de saúde mental, observamos no contexto clínico, uma incidência cada vez maior no Brasil.

As causas da doença podem ser encontradas em três pilares: (1) herança genética, a maioria das crianças que sofrem do mutismo apresentam uma predisposição genética a experimentar sintomas de ansiedade que é exacerbada por condições estressantes ou hostis; (2) traços de temperamento, como: vergonha, timidez, preocupações excessivas, evitação social, medo, apego e negativismo e (3) interações familiares, existe um consenso de que o mutismo é mantido na presença de características familiares, tais como: relação simbiótica, dependente e controladora entre mãe e filho, mães deprimidas e passivas.

As crianças que são acometidas pelo mutismo possuem uma inteligência preservada, normalmente, acima da média para a idade. Geralmente, o transtorno surge antes da idade de cinco anos (fase pré-escolar) e o grau de persistência varia de poucos à muitos anos e quando não tratados podem desenvolver na adolescência uma fobia social grave. As pesquisas indicam que a doença pode desaparecer espontaneamente, mas em geral, quando não tratada se torna crônica e altamente resistente a qualquer tipo de tratamento. Por falar em tratamento, a terapia mais indicada para o tratamento do mutismo é a cognitivo-comportamental, pois combina técnicas que vão auxiliar a criança a manifestar a fala e desenvolver habilidades sociais importantes nessa fase da vida. O tratamento precisa envolver a família da criança, a escola que ele estuda e o próprio paciente.

Abaixo, estão algumas estratégias para os PAIS que possuem um filho com o transtorno:

Ø A criança não deve ser forçada a falar;
Os pais devem elaborar inicialmente formas alternativas de comunicação através de símbolos, gestos ou cartões;

Ø Não devem permitir que outras pessoas respondam pelo filho(a);

Ø Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;

Ø Reforçar a criança todas as vezes que houver um aumento no comportamento verbal da criança. O tipo de reforço precisa ser de preferência da criança (elogios, abraços, doces preferidos…);

Ø Encorajá-las sempre que possível, fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. ir comprar pão, comprar jornal…;

Ø Evitar que seu filho seja o centro das atenções;

Ø Identificar a compatibilidade com algum amigo para jogar e brincar com a criança algumas vezes dentro e fora de casa;

Ø Utilizar a dessensibilização sistemática. Por exemplo, usar um reforço quando a criança sussurrar uma palavra e gradualmente aumentar a exposição até a criança dizer uma palavra em volume normal para algum estranho;

Ø Planejar passeios em família fora de casa.

Algumas estratégias devem ser usadas pelo PROFESSOR para auxiliar o tratamento, incluem:

Ø Permitir que a criança se comunique não-verbalmente no início, para depois utilizar a comunicação oral;

Ø Não permitir que outros amigos respondam pelo aluno;

Ø Solicitar gradualmente a exposição oral da criança;

Ø Se possível colocar as mesas em forma de grupos;

Ø Reforçar positivamente interações sociais faladas ou não;
O tipo de reforço precisa ser significativo para a criança (elogios escritos, verbal…)

Ø Reforçar qualquer tentativa de enfrentamento de situações interpessoais e ir ampliando progressivamente as exigências;

Ø Encorajá-las sempre que possível, fazer pequenas solicitações ou cumprimentos a pessoas estranhas. Ex. pegar ou entregar material fora de sala.

Ø Os professores devem sempre que possível tentar iniciar conversas fora da presença de outros alunos, devem tentar também, não colocar a criança como sendo o centro das atenções, pois isso aumenta a ansiedade da criança;

Ø Não estabelecer comparações com outros companheiros;

Ø Não permitir que os demais colegas o insultem, intimidem ou riem dele(a);

Ø Estimular e envolver os colegas para que o ajudem e para que participem nas sessões de intervenção.
O aluno não deve ter métodos de avaliação diferente da turma

FONTE: http://pedagogiaaopedaletra.com/

Pesquisadores descobrem ligação inédita entre o cérebro e o sistema imunológico

Publicado por Maria Célia Becattini

Gabriel Garcia, da INFO
03/06/2015 16h032




Descoberta pode ampliar tratamentos existentes para doenças relacionadas ao sistema imunológico, como Alzheimer e escleroseAFP

Pesquisadores da Universidade da Virginia, nos Estados Unidos, fizeram uma descoberta inédita, publicada na edição desta semana da revista Nature: pela primeira vez, cientistas perceberam que o cérebro é diretamente conectado ao sistema imunológico, por meio de veias até agora desconhecidas.

A descoberta aconteceu durante um estudo com ratos. O cientista Antoine Louveau desenvolvia um método para cortar as meninges (as membranas que cobrem o cérebro) do animal em um único pedaço, de forma a facilitar o estudo do tecido.

Porém, durante o processo, ele percebeu no pedaço alguns padrões indicando que as células imunológicas haviam atingido as meninges por meio de veias. Depois de testes, Louveau descobriu que essas veias estavam ligadas no sistema linfático, que é parte do sistema imunológico.

"A primeira vez que esses caras me mostraram o resultado da pesquisa, eu disse apenas uma frase: 'Eles terão que mudar os livros de estudo'", disse Kevin Lee, diretor do departamento de neurociência da universidade da Virginia.

Segundo Lee, o estudo "irá mudar fundamentalmente a forma como as pessoas enxergam a relação do sistema nervoso central com o sistema imunológico".

A descoberta dessas novas estruturas pode ter consequências nas pesquisas de doenças com componentes imunológicos, desde o Alzheimer até a esclerose múltipla. O estudo também pode ampliar os tratamentos existentes para essas doenças.

"Eu não acreditava que ainda havia estruturas no corpo humano que ainda não eram conhecidas. Eu achava que o corpo era todo mapeado", diz Jonathan Kipnis, um dos autores do estudo. "Acreditava que essas descobertas acabaram em algum momento do século passado. Mas,, aparentemente, elas não terminaram."

Fonte: Nature

quarta-feira, 3 de junho de 2015

TDAH NO ADULTO – ESTUDOS RECENTES

Publicado por Maria Célia Becattini
Escrito por ABDA

TDAH NO ADULTO – O QUE DIZEM OS ESTUDOS RECENTES

Apesar do TDAH ter sido descrito pela primeira vez há mais de um século, estudos científicos ganharam força a partir dos anos de 1960, a exemplo de todas as questões médicas relativas ao funcionamento cerebral.

Sabe-se que no princípio, o TDAH era atribuído a uma disfunção da infância, portanto, ao longo dos anos as pesquisas científicas se debruçavam sobre esta população. Porém, nos últimos anos uma grande quantidade de estudos sobre TDAH têm sido focados na população adulta.

Este artigo resume os principais achados científicos sobre o TDAH no adulto (preferencialmente não diagnosticado e ou não tratado), em pesquisas e estudos recentes feitos no mundo todo.

ESTATÍSTICAS
Sabe-se que cerca de 2/3 das crianças com TDAH, seguem com os sintomas do transtorno na vida adulta. Nesta população, a taxa de agregação familiar (pais e/ou filhos que também têm o transtorno) é maior do que naqueles que entram em remissão.

Estudos apontam que 4,4% dos adultos, em todo o mundo, têm TDAH com quadro completo de sintomas.

Na questão de gênero, ao contrário dos relatos clínicos do TDAH em crianças, a relação de homens / mulheres com TDAH é de 1:1.

QUADRO CLÍNICO
O tripé ‘Desatenção, impulsividade, hiperatividade’ também está presente nos adultos, embora se apresente de maneira diferente. Na maioria dos adultos a desatenção é predominante em relação à hiperatividade.

A maioria dos adultos acabam por desenvolver estratégias compensatórias para lidar com seus déficits e os prejuízos por eles acarretados, especialmente os adultos que tem QI mais alto, condição socioeconômica estável e/ou outros fatores de resiliência.

Como os adultos em geral, têm mais autonomia do que as crianças, podendo optar por atividades de sua preferência, é comum que estes relatem dificuldade de foco em situações ou ambientes específicos e não em tudo.

A desatenção, tanto no adulto quanto na criança, é um sintoma e não a ‘causa’, como pode parecer. 
O comprometimento das funções
executivas é o centro do problema, afetando a atenção, mas não só a atenção. Este comprometimento afeta a capacidade de planejamento, execução de tarefas, organização, manejo do tempo, memória de trabalho, regulação emocional, iniciação de tarefas e persistência ao alvo. Nos adultos este comprometimento frequentemente aparece como dificuldade em terminar tarefas no prazo determinado, atrasos frequentes, esquecimento de tarefas planejadas, etc.



Infelizmente, este conjunto de dificuldades, costuma ser julgado pelos colegas de trabalho e ou familiares próximos, como ‘preguiça’, ‘desleixo’, ‘desinteresse’, etc. Esta percepção, faz com que adultos com TDAH não diagnosticados, enxerguem tais dificuldades como parte de sua própria personalidade, inibindo a busca por uma avaliação diagnóstica e acarretando sérios problemas na autoestima e autoconfiança.

A hiperatividade no adulto, é descrita como dificuldade em permanecer parado, comumente em situações específicas. Esta dificuldade em geral afeta o sono e atividades que exijam que fiquem parados por longos períodos, especialmente se tais atividades forem ‘obrigatórias’ ou algo que não os interesse em absoluto.

Vale ressaltar, que tanto crianças como adultos com TDAH, são capazes de ficar horas focados em uma mesma coisa, se esta coisa for prazerosa, estimulante e/ou cheia de novidades. É fundamental compreender que isto não se trata de uma livre e leviana ‘escolha’. Pessoas com TDAH têm uma deficiência químico-cerebral; quando estão diante de coisas ou atividades prazerosas, estimulantes e cheias de novidade, esta circuitaria cerebral é ativada. Em outras palavras, prazer e estímulo constantes, aumentam a produção química no cérebro de quem tem TDAH, compensando as deficiências.

Este ponto vale especial atenção, principalmente por duas razões: Primeiro, entender até que ponto existe liberdade de escolha diante de questões neurobiofisiológicas e, em segundo, o quão graves podem ser os prejuízos acarretados por esta necessidade orgânica em buscar prazer e estímulo constantemente.

Todos os seres humanos têm seu leque de escolhas na vida margeadas por questões sociais e biológicas. Grosseiramente comparando, a título de ilustração, quando estamos com sono, queremos deitar e dormir; quando sentimos fome, queremos comer; quando estamos com a pressão arterial muito baixa, sentimos necessidade de comer algo salgado. Estes são exemplo simples, que ocorrem com todo ser humano, e nem sequer questionamos. Mas, se pararmos para pensar, são ‘limitações’ orgânicas, contra as quais é muito difícil lutar, e às vezes impossível. O cérebro do TDAH não produz certas substâncias químicas na quantidade e velocidade necessárias para garantir o funcionamento equilibrado de certas atividades (funções executivas), por esta razão é ‘natural’, até óbvio, que o próprio corpo peça por atividades que compensem esta deficiência. Atividades que dão prazer ou estimulantes, aumentam esta produção química, trazendo esta sensação de equilíbrio ao cérebro.

Antes que uma pessoa desavisada julgue isto como algo ‘muito conveniente’, vamos lembrar que a busca constante por atividades prazerosas e/ou estimulantes, na maioria das vezes, acarreta mais prejuízos à vida do indivíduo do que benefícios. Sentar horas para jogar videogame pode ser uma atividade muito estimulante, entretanto, a dificuldade de controlar seu impulso, pode levá-lo a ser visto como preguiçoso, irresponsável e até mesmo perder o emprego, por exemplo. Mas existem atividades estimulantes que podem acarretar prejuízos ainda maiores e mais graves como abuso de álcool e drogas, busca desenfreada e impensada por sexo, compulsão alimentar, dirigir em alta velocidade, atividades de alto risco físico (participar de rachas de carro, sair com pessoas desconhecidas, ‘brincar’ com armas de fogo e objetos perigosos sem o devido preparo, praticar esportes radicais sem o devido preparo e aparato de segurança, etc.) e ou moral (mentir, entrar em lugares proibidos, transgressão da lei, etc.). Essas coisas aumentam o nível de adrenalina, causando uma sensação de equilíbrio ao cérebro do TDAH, podendo se tornar quase ‘compulsivo’. Ainda que saibam claramente o que é ‘certo e o que é errado’, muitas vezes, a necessidade de estimulação cerebral pode tornar quase impossível a um TDAH deixar de buscar o estímulo.

Um dos maiores prejuízos acumulados na vida do adulto com TDAH, está na necessidade frequente da troca de estímulos, se traduzindo em: troca incessante de empregos, términos abruptos de relacionamentos, dificuldade em terminar cursos universitários e falta de controle financeiro.

COMORBIDADES

Estudos informam que cerca de 75% dos adultos com TDAH apresentam mais de uma comorbidade, entre as mais comuns, depressão, ansiedade, compulsão alimentar, distúrbios do sono, drogadição e alcoolismo e dislexia.

Devido ao comprometimento em múltiplas esferas da vida, adultos com TDAH, apresentam baixa autoestima crônica e frequentemente quadros depressivos e ansiosos.

QUESTÕES LABORATIVAS / OCUPACIONAIS

O TDAH no adulto frequentemente apresenta um importante comprometimento nas esferas ocupacionais e laborativas a longo prazo.

Menor produtividade, maior número de faltas, maior número de acidentes de trabalho e maior número de demissões. As maiores queixas dos colegas de trabalho e patrões, se referem a baixa produtividade e procrastinação, falar demais ou falar na hora errada, não cumprir prazos, cometer erros por distração, dificuldade em priorizar, dificuldades em seguir regras, esquecer o que foi planejado ou combinado com a equipe. A dificuldade de regulação do humor, também aparece como queixa de humor instável.



VIOLÊNCIA E CRIME

Um dos quadros mais dramáticos de possíveis consequências para um adulto com TDAH não diagnosticado, é o desenvolvimento de comportamentos antissociais. Infelizmente, existe uma ligação, ainda que remota, entre TDAH em adultos e violência. Adultos com TDAH têm maior risco de se envolver em atos criminosos e agressões com potencial de transgressão da lei, denominados ‘acidentes críticos’.

Estudos revelaram que crianças com TDAH e TOD (transtorno opositivo desafiante), têm mais chances de desenvolver transtorno de personalidade antissocial quando adultos, no entanto, atos antissociais em adultos com TDAH, independem da presença de um transtorno de personalidade antissocial ou de abuso de drogas.

Estudos também relataram taxas entre 25% a 45% de pessoas com TDAH em populações carcerárias.

O ADULTO COM TDAH ALTAMENTE FUNCIONAL

Como foi dito no 
começo deste artigo, existem adultos com TDAH, que não tiveram diagnóstico e que, no entanto, tem uma vida bem desenvolvida; começam e terminam cursos universitários, desenvolvem carreiras e casamentos sólidos, tem filhos e qualidade financeira estável. Estes adultos foram capazes de desenvolver estratégias para compensar suas dificuldades, porém convém lembrar que esta capacidade para driblar o seu TDAH com estratégias de compensação, é oriunda de fatores de resiliência como alto QI, situação socioeconômica privilegiada, possibilidade de ganhar a vida com atividades dinâmicas e estimulantes, entre outros. Ainda assim, é comum que tais adultos relatem ‘se sentir aquém’ do que poderiam.

HÁ LUZ NO FIM DO TÚNEL

Infelizmente, o TDAH pode trazer consequências mais sérias e graves do que as pessoas costumam perceber a priori.

O primeiro passo para evitar desfechos mais graves do TDAH na vida adulta, é o diagnóstico precoce, e o consequente tratamento. O segundo passo é garantir uma transição do tratamento da adolescência para a fase adulta. Avaliar se o TDAH pode ou não ter entrado em remissão e traçar estratégias para esta nova fase da vida.

Para adultos com diagnóstico tardio, ou seja, aqueles que nunca tiveram diagnóstico durante a infância e adolescência e que, portanto, já acumularam muitos prejuízos, a primeira coisa a saber é que suas dificuldades têm um nome e têm tratamento. A terapia cognitivo-comportamental é fundamental para ajudar a desfazer as crenças que já se instalaram em seu sistema de crenças, quanto às suas habilidades e capacidades. Conhecer tudo sobre o transtorno é outra ferramenta para lidar melhor com ele. Tratar os sintomas das comorbidades, que em geral acompanham adultos com TDAH.

O grande problema do TDAH é colocar as pessoas em um grupo de maior suscetibilidade a uma série de consequências de leves a graves ao longo da vida. Porém o diagnóstico, tratamento e manejo adequados do transtorno, podem reduzir esta suscetibilidade, ao menos, para as mesmas proporções que qualquer indivíduo sem TDAH.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Transtorno de Décit de Atenção / Hiperatividade - Organizadores Nardi, Antonio E., Quevedo, João, Silva, Antônio G. - Porto Alegre: Artmed, 2015; Capítulo 7, pág 67 a 76 Autores: Nazzar, Bruno P., Mello, Fábia M. A.

Polanczyk, Guilherme; Rodhe, Luis A.; Epidemiology of attention-deficit/hyperactivity disorder across the lifespan. Cur Opin Psychiatry, 2007.

American Psychiatry Association. Diagnostic and statistical manual of mental desorders: DSM-5

Costa, Danielle S., Medeiros, Débora G. M. S., Alvim-Soares, Antônio, Geo, Lucas A. L., Miranda, Debora M.; Neuropsicologia Teoria e Prática, 2ª Edição, Artmed 2014; Cap. 12 Neuropsicologia do Transtorno do Déficit de Atenção / hiperatividade e outros transtornos externalizantes, pág 165 à 182

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